segunda-feira, 15 de abril de 2019

ACONTECIMENTOS DE UMA INFÂNCIA NUNCA RELATADOS

A QUEDA NA CALÇADA


Era dia de natal, ao fim da tarde o tempo estava chuvoso e a noite já era evidente. A família estava reunida à mesa, a volta do patriarca, em amena cavaqueira, eu era  muito miúdo e assistia calado sem autorização nem sequer para me levantar, quem me valia, muitas vezes, em outras ocasiões semelhantes, era a Natércia mas naquela tarde ela não estava colaborante, estava a ser um frete.
Eis senão quando;
Batem a porta, faz-se silêncio, olham uns para os outros e alguém diz:
- Quem será? Neste dia a esta hora.
Todos fixam os olhares vagamente na entrada da sala, até que, quem estava mais próximo da saída resolve ir ver quem era.
O tempo passou e o silêncio acentuou-se, até que a minha mãe veio ao corredor perguntar.
- Oh menina quem é?
Do outro lado não veio resposta, mas soube-se que quem era estava a ser atendida, na sala de entrada com a porta fechada.
Passou-se bastante tempo, todos estavam ansiosos e inquietos, até que por fim, lá se ouviram as despedidas da praxe e a minha tia apareceu, vinha com o rosto fechado, com a chamada cara de poucos amigos, bastante consternada e  com uma fugidia lágrima no olho.
- Eram os pais do “Zé Maria”.
Diz o meu pai muito depressa. –Querem ver, a Natércia escorregou na calçada.-
Eu ouvi e fiquei admirado como poderia ser, a Natércia esteve sempre ao meu lado e não tinha dito nada.
A conversa ia recomeçar, senão quando a minha tia, que era a tutora da Natércia depois da morte da mãe desta, se voltou, para  o irmão, com cara de poucos amigos.
- O que é que estás para aí a dizer! Deixa-te de graças que o momento não está para  brincadeiras.
O meu avô, com o seu ar de velho matreiro, lá foi dizendo à filha:
- Bem bem, vai lá falar com a rapariga para outro lado porque o miúdo (que era eu) está aqui.-
Logo agora que conversa talvez me começa-se a interessar é que o meu avô se saiu com esta do “miúdo”. Pois bem, eu até já estava habituado a deixar muitas vezes de sentir o tampo da cadeira quando o assunto me interessava, mas enfim, lá em casa eu não tinha voto na matéria. Ainda fiz uma tentativa, questionando como teria sido o acidente, mas nem para mim olharam, salvo a minha mãe que me disse:
- Não sabemos nada, mais tarde iremos saber.-
Passaram-se uns meses, entretanto a Natércia e o Zé Maria casaram e ela, talvez porque começou  a ter uma vida diferente, já não tinha tempo para nada e uma coisa curiosa, ela começou a estar cada vez mais gorda,  era frequente ela dizer que roupa já não lhe servia realmente ela estava com uma barriga cada vez maior e eu intrigado perguntava: -Se ela estava mais gorda e com a barriga grande se seria da queda?-
Até que por fim lá me disseram que não tivesse preocupado. –Era barriga d`água.-
Bem, sempre era uma doença, até porque eram frequentes as indisposições dela mas o seu ar feliz e a sua  alegria eram evidentes o que me deixava mais descansado.
E foi nessa incerteza que o tempo foi passando, ela cada vez ia menos lá a casa e eu por outro lado redobrava a atenção a todas as conversas relacionadas com ela.



Texto escrito por: FIS

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